As conversas giravam entre alguns assuntos deste momento único: cobrança de faltas no futebol, previsão sobre o placar da próxima copa e outros tantos como trabalho, moradia e viagens.
Entre uma gôndola e outra ouvi alguns papos:
- Qualquer um de nós conseguia pelo menos fazer um único gol. Mesmo sendo pernetas como somos...
- A partir de agora torço contra o Brasil em qualquer jogo. É uma vergonha, um desaforo pra nós.
- Tô quase comprando minha casa, mas a dúvida sobre como arrumar a nova casa é muito grande, não sei que tipo de móveis devo colocar lá...
- Cheguei ontem. Minhas férias foram muito gostosas. Mas, quase morri de medo do tal avião. É... paguei bem menos na passagem e vim bem mais rápido...
- O cara disse para eu "investir"... Não sei onde...
O português, infelizmente, deixa a desejar, uma grande pena.
Porém, as conversas são as mesmas que ouvimos em outras épocas quando outra classe média começava a desfrutar de certas regalias. Tinham um português mais apurado por terem nascido já na tal classe média, por terem tido acesso a boas escolas.
A percepção de voar confere poderes nunca antes imaginados. O poder de compra dá noções de inúmeras possibilidades e a capacidade de conjecturar sobre qualquer assunto traz a sensação de competência.
Passei a refletir sobre a partir de quando tiramos o acesso a tudo isso de toda uma "casta"? Refleti sobre culpados e possíveis tiranos que ordenaram e colocaram em prática esse vandalismo.
E comecei a analisar quanto ao momento em que tudo isso começou a ser transformado e minha conclusão é que: como sempre damos o que é merecido, porém sem preparar quem vai receber.
Classe média... esse é o nome... tem que aprender tudo na raça, sempre. Mas, fico feliz por poder viver este momento e observar as reações ao novo, ao sonhado e agora realizado, afinal a classe média volta ao seu lugar, tem direitos que nunca deveriam ter sido tirados.
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